Podes ser tu quem quiseres. Podes ser um, podes ser uma. Podes vir vestido de estórias ou despida de nadas. Vem com pedidos ou com ausências. Serás vazia, serás imenso. Com mãos fartas de medo, barriga de frio, gritos de silêncio.
Podes ter um passado de segredos ou um presente incerto. E então, enquanto não vem o amanhã, tropeça na sombra, chuta qualquer segundo, sê flácida de conteúdo, carente de testemunho.
És e serás, quem serve apetites, quem dá vontades. És desejo sem vista futura, um querer apessoado.
Chega sem promessas escritas, sem dizeres falados e não olhes, não encares e toca, perfura, vasculha, remexe e acaba por nos fazer vir.
Depois vem a madrugada, que alcança a quase saudade e nos dá a liberdade. Leva-nos um pedaço do tempo, do que foi quase nada, foi um só prazer desejado por dois corpos cansados, naquele quarto de hotel.
“Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra. E sei que nenhuma vai ganhar. Só por ter dois sóis, só por hesitar” Jorge Palma